Garcia Lorca e "little Ashes"
Me preparava para assistir a um filme monótono, monocórdico e previsível (até porque, quem não sabe da história de lorca?). E confesso ter me enganado redondamente.
O primeiro impacto que tive ao ver a personagem de Pattison não foi dos melhores, mas em essência Dalí sempre fora excêntrico, uma personagem de facto, um tanto caricato, mas "em termos restritos era bem aquilo ali mesmo".
Na verdade quero cortar as más críticas (todas se vinculando à uma atuação medíocre por parte de pattison, admito) e ir para o que chamo de "ponto de comoção" e verdadeiro foco do filme.
Pensei que pelo fato de "o ator" principal ser uma estrela de crepúsculo o filme fosse girar em torno da visão deturpada de salvador dalí, uma personagem que merecia, sem ofensas, um ator melhor para ser interpretado. No entanto não foi isso que assisti.
O filme se baseia no ponto de vista de Lorca, ou melhor, de um narrador oniciente e onipresente, a grosso modo, que nos relata, sem narrar, acontecimentos interessantes do andor da vida de Lorca em especial.
O que me deixou intrigado nesse filme foi que me senti, pela primeira vez com poesia, tão enebriado, poemas tão inspirados e puros, a essência de "Lorca" e como fui levado a me encantar pelo engajamento político do mesmo, em prol de "seu povo" em prol de "sua raça" e da liberdade inequívoca para todos - algo que vejo simbolizado nos dias atuais pelos três anos consecutivos de protestos ininterruptos de vários espanhóis engajados em madrid . O filme, apesar de ter lá seus problemas (que ao meu ver foram apagados pela excelente atuação do verdadeiro protagonista) me fez ter um inédito interesse por poesia, pela história conturbada da Espanha (na verdade devo fazer uma defesa desse meu "não tão súbito interesse" já que há um bom tempo venho discutindo com lusos sobre a história da Galiza o que naturalmente me leva a própria história de Espanha e Portugal como povos e nações irmãs). Sem mencionar meus estudos sobre a arte de vanguarda e de protesto da Espanha "anti e pró fascista" (uma linda exposição que fui há alguns anos atrás, quase por acidente, mas cujas fortes imagens ainda me marcam).
Se recomendo o filme? Sim evidente, uma das cenas de beijo mais cálidas e belas que já vi em um filme, uma linda pintura poética e imagética, sem forçar, sem exagerar, sem se perder em cenas vulgares de sexo.
Quanto à pattison, confesso que em dado momento o que me convence em sua atuação é seu olhar, nunca vi um ator conseguir expressar com apenas um olhar amor, rancor, compaixão e saudades, e pattison, mesmo dentro de sua imobilidade expressiva de sempre consegue jogar no olhar toda a qualidade de interpretação que falta no restante.
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