O autocentrismo

Por um bom tempo avaliei meu próprio egocentrismo, sendo bem direto e honesto não poderia estar mais adequado à esses tempos tão difíceis e estranhos em que vivemos.

Analisando minha realidade, meus problemas, minha vida até então pude perceber que meu "egocentrismo" vem de uma longa data, uma estratégia triste, mas legítima, de defesa psíquica.

Cedo fui agredido pela vida, sem dramas, mas de facto passei por coisas peculiares e que poucas crianças talvez aguentassem passar. Mas também, honestamente, não me vejo mais como um ícone da tristeza e do sofrimento (bem novela mexicana isso não), hoje em dia me encontro no estágio de, crescimento, evolução.

Poderia descrever por-menores das análises que venho fazendo, mas isso seria enfadonho e dispensável então prefiro chegar logo às conclusões.

Digo que não poderia existir alguém com o meu perfil em outros tempos. Acredito que essa minha geração tem a peculiaridade de sentir saudades de um tempo que nunca viveu, de sabores que nunca experimentou, de sensações, para lá de ilusórias e apaixonadas, de cenários idos.

Ao mesmo tempo é uma geração cheia de modernidades com as quais, eu confesso, pouco me sinto à vontade.

Às voltas com twitter, facebook, orkut, linkeding, entre outros mil sites de relacionamentos me pergunto "até que ponto teremos a tecnologia tão parelhada com nossas vidas"?
Outro modelo de pergunta típica da minha geração- de outras também - mas pense bem, não foi o telefone revolução semelhante? Ou mesmo o telégrafo? Imagine o que significava comunicabilidade à época?

Tendo em vista essa questão, não vejo tanta diferença assim, dos diversos períodos de grandes revoluções tecnológicas da humanidade. Muitos insatisfeitos e intransigentes com as mudanças foram com o tempo assumindo a necessidade de se atualizar, ou simplesmente engolidos pelo turbilhão da vida.

O ponto é que hoje em dia, diferente de qualquer outro período, nunca se levou tão pouco tempo para se estar completamente desatualizado, então o aborrecimento e a insatisfação gerados acabam sendo muito superiores à todo entusiasmo em que nascem as "novas tecnologias".

Nesse interim vejo um turbilhão de acontecimentos, dicas, idéias acontecendo ao mesmo tempo, cada vez menos tempo para absorver isso tudo e cada vez maior necessidade de "foco" sobre o "queremos fazer e o que queremos de nossa vida".

Ao mesmo tempo que hoje somos mais donos de nós mesmos que nunca, somos cada vez menos donos de nós mesmos, arrebatados por um infinito de informações, onde tudo é global e gigantesco, parecemos ridículos, pequenos, atrapalhados frente à tanta gente melhor que nós mesmos em nossos melhores talentos, tanta gente mais "cool", mais antenada, mais talentosa que aparecem aos baldes por aí.

É um exercício perene da auto-aceitação viver nesses tempos, aceitar quem se é, com suas debilidades, lutar contra elas e ainda digladiar no "mundo cão" por um lugar ao sol.

Então nada mais natural que tanta gente tenha se retraído, e tantas outras tenham se voltado a sí no intuito de se "melhorarem" frente aos "outros". É interessante ver como em uma era em que tudo deveria convergir para a felicidade humana plena, parecemos culminar no exato oposto.

A debilidade física já não é barreira intransponível, como foi por tantos séculos, ainda faz suas vítimas mas com todo o acompanhamento e as técnicas de apaziguamento das dores da ciência moderna, doenças que antes matavam são curadas com remédios produzidos aos trilhões, mas ainda assim nessa nova era nunca se morreu tanto, por tantas banalidades (diferente das inevitáveis fatalidades de outros tempos). Como o ser humano tão egoísta que é não enxerga mais o outro, sequioso por um lugar "ao sol" pisam, humilham quem consideram em certa medida "fracos e inferiores".
Curiosamente reveses; depressão, psicose, esquizofrenia e tantos outros casos adquiridos ou hereditários de problemas mentais.

Vejo que é um tempo de pujança intelectual incrível, de infinda criatividade polulando no mundo inteiro, vejo que os espaços para os "alternativos' ou os "não antenados" se multiplicam mundo afora, mas o que pouco tenho visto é a aceitação das pessoas de suas fraquezas, de suas imperfeições. Parece que na pressa de quererem "agarrar o mundo" se esquecem da entidade e do ser mais importante para nós mesmos, o nosso eu interior.

Volto-me ao "egocentrismo", mas não como um exercício de auto-bajulação, como muita gente costuma fazer e como eu venho aprendendo, ou tentando, a deixar de fazer. O importante não é apenas olhar para dentro de si e se admirar com as belezas de sua própria alma, mais importante é conhecer as debilidades da mesma, encarar sua feiura tão escura e suja. Ao encará-la buscar não destruí-la mas transformá-la em mais um elemento positivo de sua constituição espiritual, exercício difícil, demanda certo tempo, mas que um mundo com tantas máquinas parece não permitir a não ser que nós, nos voltemos para nós mesmos.

Não sou capaz de distinguir o egocentrismo da visão de plural, de sociedade, de comunidade, penso que preciso estar bem, é uma obrigação minha como indivíduo perfeitamente constituído, fisica e mentalmente, estar bem para o próximo, para ter braços a oferecer, uma mente a pensar e um corpo a agir. E isso de fácil nada tem.

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